
O espetáculo «O Touro Vai Nu», que estreia no dia 19 de fevereiro, pelas 17h00, no pavilhão do INAC, em Ribeirão, tem protagonistas muito especiais: Rui, Hélder e Vítor são utentes da Casa de Santa Maria, uma valência de resposta ao Apoio à Deficiência, do Centro Social e Paroquial de Ribeirão (CSPR). Estão a treinar para se tornar verdadeiros artistas de circo no espetáculo “O Touro Vai Nu”, uma performance englobada na ação «Circo por Todos», dinamizada pelo INAC – Instituto Nacional de Artes do Circo, e inserida no projeto «Há Cultura | Cultura Para Todos» desenvolvido pelo Município de Vila Nova de Famalicão.
Atuam no pavilhão do INAC, com entrada gratuita até à lotação autorizada, conforme os lugares assinalados. Neste espaço também estarão expostas as ilustrações feitas por Alan Sencades durante as sessões de capacitação realizadas na Casa de Santa Maria.
«Da primeira vez (ensaio) fiz a torre, foi espetacular, foi maravilhoso. Agora vou fazer mais: vou apresentar uma peça aqui», explica Rui Silva, de 24 anos, utente da Casa de Santa Maria, que participa na performance. Sobre o que vai apresentar no próximo dia 19 de fevereiro não revela porque «vai ser surpresa», diz, sorridente.
«Quando as pessoas assistirem a este projeto, espero que retirem a mensagem de que não devemos colocar limites a nós mesmos, nem aos outros», refere Callum Donald, aluno do 2.º ano do INAC, envolvido no espetáculo. «As pessoas conseguem criar e ser desafiados a criar, e tornar-se melhores pelo desafio colocado, independentemente das circunstâncias», acrescenta.
Este espetáculo é o resultado do trabalho desenvolvido durante os meses de janeiro e fevereiro deste ano e que envolveu quase 40 pessoas portadoras de deficiência, dos 18 aos 72 anos, que, juntamente com artistas profissionais de circo, exploraram as suas competências artísticas. Houve duas linhas de trabalho: a primeira diz respeito a uma criação artística inclusiva, dirigida inicialmente por Mickaella Dantas, que, por motivos de saúde, foi substituída por Carolina Vasconcelos, que envolve a participação de três utentes do CSPR e estudantes do Curso Profissional de Artes do Circo do INAC; e a segunda que envolveu um plano de aulas direcionado aos utentes da Casa de Santa Maria, lecionado por Carolina Vasconcelos e Ariana Sebastião, sob o olhar do ilustrador Alan Sencades.
A impossibilidade de envolverem um número maior de cidadãos portadores de deficiência no espetáculo final, prendeu-se com o facto de existir a intenção de envolvê-los como se fossem verdadeiros artistas, integrando um grupo de trabalho profissional. «Não é muito comum, no universo das artes inclusivas, fazer-se a seleção de pessoas, mas acho que no âmbito criativo, profissional e artístico, é tão válido como a não seleção», comenta Mickaella Dantas, bailarina e membro da direção artística, que defende a importância de transmitir uma sensação real do mundo profissional das artes, junto de cidadãos portadores de deficiência.
A coordenadora do INAC, Lueli Cristina, o «Circo por Todos» teve como objetivo «trabalhar o circo de forma inclusiva, não só com cidadãos portadores de deficiência, mas também em situação de risco social».
Refira-se que o trabalho do INAC, na área da inclusão social pela arte, já é habitual na dinâmica da instituição que «nos últimos três anos, no âmbito do «Envolvarte», trabalhamos com várias instituições de Vila Nova de Famalicão e sempre tivemos uma ótima resposta (…) conseguimos ver, nos próprios utentes, o resultado do nosso trabalho», destaca Lueli.
O desenvolvimento de parcerias entre entidades artísticas e instituições sociais é visto como uma oportunidade interessante pela diretora técnica da Casa de Santa Maria/CSPR, Patrícia Miranda, para quem «os nossos utentes vibram com o INAC. Ficam bastante satisfeitos e entusiasmados», refere, destacando que esta ação é importante «especialmente pela parte da inclusão, isto é que é a verdadeira inclusão. É estarem presentes num mundo em que verdadeiramente participam. (…) não foi criado um grupo só com pessoas portadoras de deficiência, foram todos envolvidos no mesmo grupo, tanto artistas, como pessoas portadoras de deficiência».