
A história de Avelino Machado é imensa. A que aqui trazemos é a sua mais recente história. Tem seis anos. Decorre na Oficina de Reparação de Letras. Está no Porto. O Avelino é de Famalicão.
Avelino Guilherme Barros Machado já foi radialista, manager de bandas, na então ”Deixe de ser duro Ouvido”, técnico de festivais de música, escritor e, agora, abraça as artes plásticas num quase abandonado centro comercial do Porto.
Avelino, o artista plástico, trabalha, em tela, a letra, a palavra e textos do escritor Guilherme Barros (que é ele próprio). Qual ourives, trabalho de filigrana, Avelino cuida e projeta as palavras que o Guilherme lhe dá «num trabalho de paciência, único e delicado», processo que Avelino assume «como um projeto de vida».
No fundo, o artista usa a escrita da sua meia parte – Guilherme Barros – transpondo-a para a tela, colocando letra a letra, palavra a palavra… A frase.
As letras são feitas de aglomerado de madeira, cortadas pelo irmão mais novo que inventou a máquina para o efeito. «Este processo de fazer a letra, formar a palavra e construir a frase é um trabalho muito singular e inovador, é essa a reação das pessoas», que falam num projeto original.
Uma mistura de arte plástica com a escrita, com dois parceiros: o Avelino e o Guilherme Barros que escreve e idealiza o texto que depois transmite ao Avelino que idealiza qual é a fonte da letra, a sua espessura, que cor vai trabalhar e o tamanho da tela.
Depois do irmão devolver as letras, estas têm que ser polidas, lixadas, pintadas e colocadas uma a uma, num processo de filigrana. As letras de tamanhos e fontes várias ganham corpo e dimensão na tela.
Uma das telas tem quase oitocentas letras; há uma com mais de quatro metros de comprimento. O processo de pintura e secagem de todo o texto durou quase um ano; «estamos a falar de letras que foram pintadas quatro vezes uma a uma. É um processo de muita paciência», mas também «terapêutico», dita o artista Avelino.
Cada tela é acompanhada de um passaporte de identificação que contém todas as descrições técnicas, desabafos, pensamentos e as folhas de trabalho.
Este projeto surge depois ter escrito (o Guilherme Barros) o primeiro livro, “Esboços Palavras”, em 2014, «e por alguma curiosidade de continuar na escrita, que me ajudou muito a fazer o luto pela morte da minha mãe»
O tempo que passou e um desafio depois (de um amigo) levou-o, no dia seguinte, a passar por uma loja de materiais de arte. «Lembrei-me da conversa na noite anterior». Entrou. «Comprei uma tela e uns pastéis de óleo».
Em casa fez os primeiros esboços, sempre «com palavras». Ficou a sensação: «gosto disto».
Depois, em vez de desenhar as palavras «comecei o processo de as pintar e colá-las na tela e com o decorrer deste trabalho começo a ir buscar outras telas, encontro outros fornecedores até que há cerca de quatro anos, o meu irmão mais novo criou uma máquina de corte…» que chega à minúcia da própria caligrafia do artista Avelino.
Aqui, e desde então, Avelino tem o apoio de muitos amigos que o ajudam a ter as condições de trabalho. «Gostava de poder dedicar uma tela a todos os que me têm ajudado».
É isto que pretendo contar sobre o Avelino, o artista, e do cúmplice Guilherme Barros que prepara um novo livro… “Reparador de Letras”.
Fotografias: Patrick Esteves