Esta sexta-feira, na sessão solene evocativa do 25 de Abril, muitos dos discursos dos partidos com assento na Assembleia Municipal andaram em torno das conquistas de Abril e do que ainda falta cumprir desses desígnios de há 51 anos.
Coube à CDU abrir os discursos. Madalena Soares recordou um emocionante testemunho de Conceição Matos, resistente comunista que foi presa no tempo da ditadura. Considera este um testemunho inspirador na luta pelas conquistas dos direitos das mulheres. Sílvio Sousa recordou os heróis de Abril, dos mais conhecidos aos mais anónimos, como o cabo José Costa que desobedeceu a uma ordem militar para atirar sobre Salgueiro Maia. «Quantos de nós hoje sabemos dizer não?», perguntou o comunista que terminou com uma saudação a quantos lutam por uma vida coletiva melhor.
A intervenção do Chega passou nas vozes de Pedro Alves e João Pedro Castro. Ambos muito críticos do sistema político atual. «O país vive uma instabilidade política, fruto de ambições desmedidas, falta de ética e ofensas às regras democráticas», disse Pedro Alves. João Pedro Castro considera que «estamos reduzidos à indigência; resta-nos o sol e o turismo, a pobreza crónica, a emigração dos nossos jovens, a imigração descontrolada e desqualificada e a importação de máfias e bandidos».
Vivemos tempos estranhos, uma vez que a sociedade está pautada pelas redes sociais, pelos vídeos virais, por tudo aquilo que é chocante
Carmen Araújo e Ricardo Mendes falaram pelo CDS-PP. A deputada referiu que vivemos tempos de guerra, tensão democrática, extremismos, discursos de ódio e populismo. Por isso, «são precisas lideranças políticas credíveis e de compromisso firme com a paz e com a justiça».
Ricardo Mendes, também do CDS, diz que «vivemos tempos estranhos, uma vez que a sociedade está pautada pelas redes sociais, pelos vídeos virais, por tudo aquilo que é chocante», acarretando, muitas vezes, impacto na vida das pessoas «e na catequização social».
O PS começou a sua intervenção por Luís Miranda. O deputado, depois de referências às conquistas de abril, enumerou alguns dos problemas que persistem na atualidade: a falta de habitação, a emergência climática, o trabalho digno e a imigração. «É necessário criar condições políticas para que as conquistas de Abril cheguem a todos». Sofia Lopes recordou o seu pai, o ex-autarca Lopes Correia, para referir que «a política é um serviço público e de entrega aos outros. E se o 25 de Abril deu-nos muito, acima de tudo deu-nos dignidade».
É necessário criar condições políticas para que as conquistas de Abril cheguem a todos
A recém-eleita líder da JSD, Daniela Torres, frisou que se a liberdade foi uma conquista da Revolução dos Cravos, «a juventude deve perceber que não é um símbolo do passado, mas um compromisso com o presente e com o futuro». A jovem acredita que «a liberdade concretiza-se nas salas de aula, nos locais de trabalho, nas redes sociais e no voto».
Paula Azevedo, que tem memória do 25 de Abril, enquanto cidadã residente em Angola, referiu «que há tantos 25 de Abril», porque cada um «tem a sua visão e memória desses tempos revolucionários. E se há algo que o 25 de Abril nos ensinou é a aceitar que as opiniões não têm que de ser todas iguais».

A sessão encerrou com a intervenção do presidente da Assembleia Municipal.
João Nascimento falou dos obreiros, dos acontecimentos desde Abril de 74 até novembro de 1975, duas datas que continuará a valorizar e a comemorar «porque tenho essa liberdade». Falando das conquistas da revolução, considera que nem tudo está cumprido «e que se o caminho era longo naquela época, continua a sê-lo».
O presidente da Assembleia assume que há falhas, mas realça que a democracia aperfeiçoa-se diariamente.
Esta sessão do 51.º aniversário do 25 de Abril foi das mais participadas em termos de público. O salão nobre da Assembleia, embelezado com cravos vermelhos e brancos, não foi suficiente para acomodar todos quantos quiseram assistir à sessão.