
Fotografias, cartazes, trapézios, bolas, chapéus, roupas e todo um conjunto de objetos que contam a história do circo estão em risco de se perder por falta de preservação e conservação, o mesmo é dizer por ausência de um museu nacional. O espaço que existe, na Lousã, é de uma associação privada; publicações sobre a matéria também são poucas e estudos académicos também são igualmente em número reduzido.
Um dos investigadores empenhado neste património cultural é o famalicense Rui Leitão. É coordenador do Risco – Centro de Investigação sobre as Artes do Circo, um departamento do Instituto Nacional de Artes do Circo (INAC) que tem sede em Famalicão.
Para muitos proprietários, isto é lixo. Eles não têm maneira de guardar estes materiais por muito tempo e nem sempre se encontram nas melhores condições por causa da humidade
O antropólogo Rui Leitão está a estudar a história do circo e, ao mesmo tempo, a lutar pela preservação de um espólio que vai ficando nas gavetas e malas das empresas/famílias do circo. «Para muitos proprietários, isto é lixo. Eles não têm maneira de guardar estes materiais por muito tempo e nem sempre se encontram nas melhores condições por causa da humidade», revela o investigador.
À semelhança de outras áreas de atividade, o circo é património histórico. Teve uma evolução ao longo dos anos, sofreu influências, marcou gerações, fez rir e chorar. Um exemplo, vincado por Rui Leitão, é a sua importância, durante o século XX, para as regiões do interior do país. É que, devido à sua itinerância, o circo foi das poucas artes performativas a chegar a todos os cantos de Portugal. Exemplo parecido apenas aconteceu com as bandas filarmónicas.
Por isso, «se não tomarmos uma ação imediata e urgente, estamos a perder parte da nossa identidade e da nossa história», avança Rui Leitão.
Neste momento, há cerca de três centenas de peças guardadas no Risco, nem todas catalogadas, que foram doadas por Joana Martins, Luísa Moreira, a família Chen, Mariana Monteiro, entre outros. O que corre mais perigo é aquilo que pertence a artistas que não tiveram ninguém na família que desse continuidade à profissão.
As “famílias”/empresas de circo em atividade também estão interessadas em preservar este património. Rui Leitão sentiu essa sensibilidade em conversa com eles e com a Associação Portuguesa de Empresários e Artistas de Circo; o investigador encontra-se também em contacto com colecionadores privados.
O próximo passo é o Governo e algum município passarem do interesse à ação. Rui Leitão já esteve reunido com a Ministra da Cultura, mas, e apesar do interesse, a verdade é que o Governo caiu. «Estamos em negociações em várias frentes, com organismos do espectro central, local ou intermédio. É que um museu desta escala custa muito dinheiro», sublinha. Além dos parceiros para o projeto do museu, equacionam uma candidatura a fundos europeus.
O museu do circo poderá surgir só daqui a dez anos, uma estimativa de Rui Leitão, por isso, o mais urgente é criar uma reserva técnica e uma equipa de conservação e restauro, «para salvaguardar as peças» e fazer com que a história do circo não seja um trapézio sem rede.